Monday, July 17, 2006

sabe


João Pedro Sevalho

Tanto que sei
tanto que vi.
Tempo carnal,
toma conta de mim.

Pés, mãos e braços,
nós, vivemos.
Posso dizer que vivemos.
Vivemos sem poder,vivemos e aprendemos.

A dúvida da amizade,
a dúvida do desejo.
A dúvida se não faço o que quero
ou se faço e perco o medo.

São dois faços,
"Se vai querer,
se vai negar,
tá todo mundo dançando,
eu também quero dançar".

O diabo me tentae ela não nega.
O que será daqui pra frente.
Não sei.

Com medo,
sigo e aprendo,
a amizade e o desejo,
nos olhos de quem amo e vejo.

Thursday, July 13, 2006

a intensidade dos tambores


João Pedro Sevalho

Faço e desfaço
o mesmo caminho
todas as noites.

Faço e desfaço amores.
Faz e desfaz os tremores.
Transitos, Tensões,
Tesões e Temores.

Ela me faz pelas noites,
e se desfaz de mim
como das dores.

Faço e desfaço clamores.
Temo pelos possíveis terrores.
Admiro com a intensidade dos tambores.

Monday, July 10, 2006

engasgado

João Pedro Sevalho

Toda vez que a noite me sufocar
com as suas lembranças,
e o nó se apertar,
eu vou chorar.

Vou chorar com toda minha força,
até o nó se afroxar, e as suas lembranças
virarem um mar de choro meu.

Toda vez que eu quiser você,
vou em busca do mar.
Pois pra mim, você, hoje, é o mar.

Lá não tem nó,
nem engano,
e nem agonia.
Desencanto.

Em algum mar,
eu vou desencantar
aquilo que hoje me faz engasgar,
não ter você por perto
e nem ao menos o mar.

Sunday, July 09, 2006

três de julho

João Pedro Sevalho

frios e quentes
suspiros e respiros
gripes e resfriados
meninas e meninos

tosses e espirros
insenso e baseado
água e remédio
moto e pé andado

cais e cama
casa e mar
rua e ladeira
pão e caviar

gargalhadas e luar
bicicleta e guaraná
biscoitinho e sofá
cama, cabeça e sonhar.

Tuesday, July 04, 2006

desejo de ficar

João Pedro Sevalho

Desejo ela tem,
passa no olhar
a malícia medida,
talvez desmedida.

Improvável, insípido, inodoro,
incolor.
Castanhos dos olhos,
o falar, ah! Indolor.

Fraquejado e humilhado
frente a ela, em meio ao mar.
Esfaqueado diante dela,
o meu olhar a implorar.

Fim de tudo,
falecido,
o olhar pr'ela ficar.
Ela é nova e boba ainda,
não entende o meu olhar.

Promessa, outro dia,
quando volto admirar.
Encorajado e já erguido,
já não devo vacilar.
Enfrentar esse desejo.
Ela treme, vai ficar.

Monday, July 03, 2006

o jovem nevoeiro

João Pedro Sevalho

O jovem nevoeiro ficava sentado a me olhar,
sabia que eu ali passava, somente pra admirar.

O jovem nevoeiro gosta de ficar no mar,
e é pra lá, pro lado grande, que ele um dia vai morar.

O jovem nevoeiro me confunde muitas vezes,
parece estar insatisfeito,
essa brisa vem de lá.

O jovem nevoeiro, de uns tempos pra cá,
resolveu me atormentar.
Me chamando com o olho,
me chamando feito o ar.

O jovem nevoeiro, não faz muito tempo,
botou muita gente pra rezar.
Fez o medo em meio mundo,
uma loucura a ensaiar.

Esse jovem nevoeiro, já consegue dominar.
Suas rajadas de desejo derrubaram o meu pomar.

Esse jovem nevoeiro não consegue mais parar,
já conhece todo mundo, vira tudo em um segundo,
se arremeça contra o mar.

Pelo jovem nevoeiro, sempre enfrente vou passar,
mas agora e para sempre
meu desejo vou matar.

Mexe tanto o meu juízo,
não consigo mais passar.
Esse jovem nevoeiro um dia há de me matar.